Apesar da minha embriagues, a conversa se desenrolava bem, talvez pelo fato de que o meu professor também se encontrava alcoolizado, a parte mais sóbria da conversa ficou para a minha amiga. Mas que não estava totalmente sã.
A conversa seguia normal, como uma agradável prosa de amigos. Mesmo tendo dentro de mim aquele sentimento de derrota, consegui me animar graças aos dois que me acompanhavam sentados a mesa. A animação era grande, mas não total. Entendia que aquela animação era momentânea, passaria se aquela conversa acabasse.
Poucos minutos depois meu professor se retira da mesa, se dirige ao banheiro deixando eu e a mulher, que naquela noite, tinha me reencontrado após muito tempo, tinha me dado um tapa na cara e me animado depois da tormenta toda. Mas ela me ajudaria muito mais naquela noite. Ela tinha comparecido a festa por causa da minha mestra, eram e são muito amigas, muito como eu e meu irmão. Entendia minusiosamente o que elas sentiam uma pela outra. Uma amizade que quebra qualquer barreira imposta por invejosos filhos da sociedade alienada e prepotente em que vivemos hoje.
Ela, além de me animar com seu jeito alegre, se propôs a beber comigo e a me ouvir. Tudo que eu pensei naquela noite ela ouviu, e com muita paciência. Ela estava linda, o tempo tinha sido um belo aliado para ela, cabelos encaracolados num tom loiro escuro, pele com textura mais suave que a ceda, voz cativante, um belo corpo de mulher, e o que mais me fascina em qualquer mulher, um olho lindo de olhar penetrante.
Seu olho era mais que lindo, ele transcendia a barreira da beleza, era algo superior a isso. A beleza se torna banal perto de uma raridade como essa. Possuía um tom verde mesclado com um toque de dourado, e isso somado ao brilho que emanava, era impossível de se esquecer.
Mas até então eu não enxergava tudo isso. Apenas via uma mulher que fazia o possível para me animar. Começamos a conversar sem ao menos levar em conta o que acontecia a nossa volta, nem o retorno do meu professor foi notado.
Resolvemos tomar a última, a famosa saidera. Pegamos os copos cheios até a boca de cerveja, e nos dirigimos até o canto do salão. Pensava eu: não, o canto de novo não. Mas esse pensamento logo se foi ao ouvir as palavras proferidas pela boca da minha acompanhante na minha lenta e torta caminha até o algoz da noite.
Sentamos nas cadeiras lá postas, e continuamos a nossa conversa. Em um momento da conversa digo a ela estar muito bêbado, e ela então me ameaça: "Cuidado, do jeito que você está, eu posso abusar de você". Por um certo tempo hesitei, seria justo depois de tentar ficar com uma menina, que dizia eu a ela, que gostava muito? Rapidamente uma resposta me veio a cabeça: Eu não devo nada a ninguém, estou solteiro. Logo me pus a disposição do ósculo. E sob um clima regado a olhares profundos um beijo se sucedeu.
Sentia-me realizado. O meu algoz se tornou a minha utopia. Lá ficamos sentados e nos beijávamos sucessivamente. Uns beijos doces, recheados de alegria, animosidade e um leve toque de alívio. Beijos apaixonantes, simplismente perfeitos.
Minha noite tornava-se mágica. Ao chegar em casa deitei-me na cama e me questionei: CARA, O QUE ACONTECEU ESSA NOITE?