domingo, 25 de julho de 2010

A Grande Noite-Terceira Parte

Apesar da minha embriagues, a conversa se desenrolava bem, talvez pelo fato de que o meu professor também se encontrava alcoolizado, a parte mais sóbria da conversa ficou para a minha amiga. Mas que não estava totalmente sã.

A conversa seguia normal, como uma agradável prosa de amigos. Mesmo tendo dentro de mim aquele sentimento de derrota, consegui me animar graças aos dois que me acompanhavam sentados a mesa. A animação era grande, mas não total. Entendia que aquela animação era momentânea, passaria se aquela conversa acabasse.

Poucos minutos depois meu professor se retira da mesa, se dirige ao banheiro deixando eu e a mulher, que naquela noite, tinha me reencontrado após muito tempo, tinha me dado um tapa na cara e me animado depois da tormenta toda. Mas ela me ajudaria muito mais naquela noite. Ela tinha comparecido a festa por causa da minha mestra, eram e são muito amigas, muito como eu e meu irmão. Entendia minusiosamente o que elas sentiam uma pela outra. Uma amizade que quebra qualquer barreira imposta por invejosos filhos da sociedade alienada e prepotente em que vivemos hoje.

Ela, além de me animar com seu jeito alegre, se propôs a beber comigo e a me ouvir. Tudo que eu pensei naquela noite ela ouviu, e com muita paciência. Ela estava linda, o tempo tinha sido um belo aliado para ela, cabelos encaracolados num tom loiro escuro, pele com textura mais suave que a ceda, voz cativante, um belo corpo de mulher, e o que mais me fascina em qualquer mulher, um olho lindo de olhar penetrante.

Seu olho era mais que lindo, ele transcendia a barreira da beleza, era algo superior a isso. A beleza se torna banal perto de uma raridade como essa. Possuía um tom verde mesclado com um toque de dourado, e isso somado ao brilho que emanava, era impossível de se esquecer.

Mas até então eu não enxergava tudo isso. Apenas via uma mulher que fazia o possível para me animar. Começamos a conversar sem ao menos levar em conta o que acontecia a nossa volta, nem o retorno do meu professor foi notado.

Resolvemos tomar a última, a famosa saidera. Pegamos os copos cheios até a boca de cerveja, e nos dirigimos até o canto do salão. Pensava eu: não, o canto de novo não. Mas esse pensamento logo se foi ao ouvir as palavras proferidas pela boca da minha acompanhante na minha lenta e torta caminha até o algoz da noite.

Sentamos nas cadeiras lá postas, e continuamos a nossa conversa. Em um momento da conversa digo a ela estar muito bêbado, e ela então me ameaça: "Cuidado, do jeito que você está, eu posso abusar de você". Por um certo tempo hesitei, seria justo depois de tentar ficar com uma menina, que dizia eu a ela, que gostava muito? Rapidamente uma resposta me veio a cabeça: Eu não devo nada a ninguém, estou solteiro. Logo me pus a disposição do ósculo. E sob um clima regado a olhares profundos um beijo se sucedeu.

Sentia-me realizado. O meu algoz se tornou a minha utopia. Lá ficamos sentados e nos beijávamos sucessivamente. Uns beijos doces, recheados de alegria, animosidade e um leve toque de alívio. Beijos apaixonantes, simplismente perfeitos.

Minha noite tornava-se mágica. Ao chegar em casa deitei-me na cama e me questionei: CARA, O QUE ACONTECEU ESSA NOITE?

A Grande Noite-Segunda Parte

Me sentia desolado. Por mais que meu irmão tentasse me animar, eu estava derrotado. O destino tinha pregado-me uma peça, afinal tudo que estava para acontecer não aconteceu. Não tinha forças para continuar na festa integralmente, sendo assim minha mente fora para longe, muito distante de lá. Cobri-me de incertezas. Será eu tão insuportável a ponto de ninguém querer juntar-se a mim? Será que um dia essa onda negativa, que alaga a bela paisagem que é a vida, passará? Naquela hora só pensava em respostas que me tiravam ainda mais o tímido sorriso, que esboçava, tentando parecer feliz aos olhos do meu irmão e dos outros presentes.

Não conseguindo me manter fisicamente feliz e indiferente ao ocorrido, resolvi explorar o salão que abrigava a festa e seus convidados. Não era um salão muito grande. Logo na entrada já se observa um corredor, de um lado cadeiras e convidados, do outro uma imensa parede, que se estendia até o final do salão, onde se encontrava os banheiros, grandes e bem iluminados, e pouco depois a cozinha do local.

Vagando pelo salão pude observar um colega meu que, em prantos, tentava dialogar com a sua namorada, que naquele momento acabava com um relacionamento de três anos. Aquela cena, somada a minha frustração, me fizeram procurar um canto para refletir. Sentei-me em uma cadeira no mesmo canto onde fora rejeitado. Lá minha cabeça se enchera de questões novamente. Será que Deus só está me poupando de uma situação como essa? Mas como pode Deus privar um homem do amor de uma mulher? Como pode Deus achar-se capaz de distinguir o que é bom e o que é ruim para um homem? Quem é Deus?

A imagem do meu colega chorando foi marcante. Mas algo me chamou a atenção, ele estava com um copo de cerveja na mão. E tomava-o com voracidade. Passou-me a idéia de tentar também. Fiz meu, com um forte puxão, um copo de cerveja de um conhecido meu, que sem reclamar, vendo em mim o retrato da raiva e da frustração, cedeu-me o copo. Percebendo uma leve melhora moral, resolvi investir minhas últimas forças, no que eu achei que me consolaria, o álcool.

No princípio aquilo me pareceu uma decisão sensata, pois estava me sentindo melhor. Com o passar do tempo, não fora a demasiada tontura que sentia que me fez piorar subitamente. Comecei a me lembrar de tudo novamente. Das lembranças tirei algo que me parecera positivo na hora: não me lamentava por ser rejeitado por aquela garota, mas sim, por ter mais um não como resposta. Aquilo foi me corroendo por dentro. O que tinha parecido-me positivo antes, me consumia de tristeza. Antes tivesse na cabeça, que me embriagava por ter sido rejeitado por aquela garota, como se ela fosse alguém realmente especial. Mas não! Entendi o estopim da minha tristeza. E foi pior.

Conforme bebia fui piorando. A tristeza tomava conta de mim. Cheguei ao fundo do posso. Me peguei totalmente estático, em uma postura totalmente desagradável, jogado na cadeira, do canto. Esse canto começava a parecer o algoz da minha noite perfeita.

Resolvi me desligar, fisicamente, do algoz. Saí de lá. Fora procurar um lugar mais animador para a minha estadia melancólica. Em uma das mesas próximas ao palco, encontrei a minha mestra, meu antigo professor de história, cuja personalidade era cativante, e também estava lá a mulher que tinha me dado o terceiro tapa, a mulher que resolveu tentar me animar, com uma fala mansa e algumas piadas junto ao meu professor que também embarcou na conversa.

A Grande Noite-Primeira Parte

Me vejo ali. Parado. Apenas pensando: essa noite é a minha noite, hoje tudo dará certo. Mau sabia eu de tudo que viria a acontecer. Já me encontrava um pouco irritado, pois o pequeno atraso dos meus familiares poderia atrasar a minha noite. Minha irmã demorava a estar pronta, e eu já não me aguentava mais naquele terno alugado.

Saímos de casa. Encontramos meu cunhado no lugar combinado. Pronto, agora vamos a festa.

Chegando na festa mais um transtorno, um segurança chato que não me deixava entrar, pois levava comigo uma caixa com os presentes dos astros da noite, e nessa caixa, segundo o chato segurança, poderia haver uma câmera fotográfica. Após uma pequena discussão consegui entrar, lavando comigo a caixa.

Ao desembarcar a caixa ao responsável pela festa, fui direto falar com o meu amigo, que é melhor descrito como irmão. Ele chegara a festa pouco antes de mim. Logo perguntei a ele sobre a pessoa que eu mais esperava ver lá, mas ela não havia chegado ainda. Para relaxar, fui cumprimentar meus amigos e seus familiares.

O tempo passa, e a minha ansiedade aumenta. Será que ela irá faltar? Pouco tempo depois ela chega. O meu alívio chega junto. Pronto tudo está como deveria, agora era só esperar o momento mais oportuno para fazer concretizar a minha noite.

As comemorações começam, entregam-se os devidos documentos, dançam-se as valsas. Agora começa efetivamente a festa. Todos felizes, haviam terminado um ciclo.

A pressão começa, tinha de falar com ela, já estava tudo praticamente certo, sairia da festa concluindo que tudo havia corrido como o esperado, nenhuma surpresa. Mas, se já era tão certo o ósculo, porque hesitava tanto? Meu passado já me ensinara: nada é certo até que aconteça.

Não me perdoaria se fosse embora da festa sem tomar a atitude adequada. Fui tratar de arrumar coragem. Copos de cerveja não duravam muito tempo cheios em minhas mãos. Mas mesmo assim não adiantava. Seria impossível eu tomar uma atitude? Eu sempre havia de ser o fraco para atos? Meus amigos trataram de dar um jeito nisso, meu irmão, mais uma amiga, que poderia ser chamada de mestra, e somado a eles uma terceira pessoa, uma mulher que era minha conhecida, já aviamos estudado juntos, lembrava-me muito bem dela, não se esquece olhos tão lindos com facilidade. Os três fizeram de tudo para me encorajar, me fizeram acreditar que eu não era escravo da timidez. Mesmo com esse pensamento em mente, a atitude não vinha. Resolveram os três partirem para uma abordagem mais incisiva. Cada um me deferiu um tapa na cara, meu irmão se sentiu mais a vontade e me bateu cinco vezes na face.

Após muitos copos de cerveja e sete tapas na cara, tomei a coragem necessária. Afinal já estava tudo certo, vamos em frente. Enchi meu peito de ar e fui. Peguei-a pelo braço, levando-na até o canto do salão. Sem dizer nada forcei uma investida, sem o resultado esperado, balbuciei algumas palavras e forcei novamente a investida, novamente sem desfecho positivo.

Resolvi então desistir, saímos do canto, encontrei meu irmão e seu enrosco, que tentavam me consolar. Mas o único pensamento que passava pela minha cabeça era que o meu passado estava certo, nada é certo até que aconteça.