Me sentia desolado. Por mais que meu irmão tentasse me animar, eu estava derrotado. O destino tinha pregado-me uma peça, afinal tudo que estava para acontecer não aconteceu. Não tinha forças para continuar na festa integralmente, sendo assim minha mente fora para longe, muito distante de lá. Cobri-me de incertezas. Será eu tão insuportável a ponto de ninguém querer juntar-se a mim? Será que um dia essa onda negativa, que alaga a bela paisagem que é a vida, passará? Naquela hora só pensava em respostas que me tiravam ainda mais o tímido sorriso, que esboçava, tentando parecer feliz aos olhos do meu irmão e dos outros presentes.
Não conseguindo me manter fisicamente feliz e indiferente ao ocorrido, resolvi explorar o salão que abrigava a festa e seus convidados. Não era um salão muito grande. Logo na entrada já se observa um corredor, de um lado cadeiras e convidados, do outro uma imensa parede, que se estendia até o final do salão, onde se encontrava os banheiros, grandes e bem iluminados, e pouco depois a cozinha do local.
Vagando pelo salão pude observar um colega meu que, em prantos, tentava dialogar com a sua namorada, que naquele momento acabava com um relacionamento de três anos. Aquela cena, somada a minha frustração, me fizeram procurar um canto para refletir. Sentei-me em uma cadeira no mesmo canto onde fora rejeitado. Lá minha cabeça se enchera de questões novamente. Será que Deus só está me poupando de uma situação como essa? Mas como pode Deus privar um homem do amor de uma mulher? Como pode Deus achar-se capaz de distinguir o que é bom e o que é ruim para um homem? Quem é Deus?
A imagem do meu colega chorando foi marcante. Mas algo me chamou a atenção, ele estava com um copo de cerveja na mão. E tomava-o com voracidade. Passou-me a idéia de tentar também. Fiz meu, com um forte puxão, um copo de cerveja de um conhecido meu, que sem reclamar, vendo em mim o retrato da raiva e da frustração, cedeu-me o copo. Percebendo uma leve melhora moral, resolvi investir minhas últimas forças, no que eu achei que me consolaria, o álcool.
No princípio aquilo me pareceu uma decisão sensata, pois estava me sentindo melhor. Com o passar do tempo, não fora a demasiada tontura que sentia que me fez piorar subitamente. Comecei a me lembrar de tudo novamente. Das lembranças tirei algo que me parecera positivo na hora: não me lamentava por ser rejeitado por aquela garota, mas sim, por ter mais um não como resposta. Aquilo foi me corroendo por dentro. O que tinha parecido-me positivo antes, me consumia de tristeza. Antes tivesse na cabeça, que me embriagava por ter sido rejeitado por aquela garota, como se ela fosse alguém realmente especial. Mas não! Entendi o estopim da minha tristeza. E foi pior.
Conforme bebia fui piorando. A tristeza tomava conta de mim. Cheguei ao fundo do posso. Me peguei totalmente estático, em uma postura totalmente desagradável, jogado na cadeira, do canto. Esse canto começava a parecer o algoz da minha noite perfeita.
Resolvi me desligar, fisicamente, do algoz. Saí de lá. Fora procurar um lugar mais animador para a minha estadia melancólica. Em uma das mesas próximas ao palco, encontrei a minha mestra, meu antigo professor de história, cuja personalidade era cativante, e também estava lá a mulher que tinha me dado o terceiro tapa, a mulher que resolveu tentar me animar, com uma fala mansa e algumas piadas junto ao meu professor que também embarcou na conversa.